segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cansada

Sabe quando sua cabeça está cansada de pensar? Quando tudo o que você quer é conseguir deitar um pouco, esquecer do mundo e deixar a cabeça esvaziar, sem ter que resolver nenhum problema e nem se preocupar com nada?
É assim que eu estou me sentindo hoje.
Eu sei que pra muita gente vai parecer besteira uma garota de 19 anos (AAAAAAAH) estar numa situação assim e que alguns vão pensar que "na sua idade não dá pra ter problemas sérios", mas eu não estou nem aí porque os meus problemas são sérios o suficiente pra mim e conseguem dar um nó na minha cabeça.
Mas para ficar mais fácil, digamos que o meu problema mesmo é me preocupar demais. Eu me preocupo com os outros, me preocupo comigo mesma, me preocupo com as coisas... Ando me preocupando muito mais que o normal ultimamente. Essa incerteza que anda a minha vida (e eu não estou falando só do meu futuro em termos de faculdade e moradia, estou falando de algumas coisas mais complicadas e pessoais), as coisas que andam acontecendo sem parar e me deixando confusa, as situações inéditas em que tenho me encontrado ao longo do ano, as mudanças nos últimos meses... Tudo isso está me deixando maluca.
Ter que resolver muitas coisas praticamente sozinha também não está sendo bom pra mim, já que eu sou uma pessoa bem dependente (e eu sei que isso é horrível, eu não me orgulho) e que detesta estar sozinha.
Mas ter que pensar em todas as questões de matrícula e de vestibular, ter que organizar minha vida pessoal sem poder falar com muita gente, passar o dia do meu aniversário inteiro sozinha (e não ter comemorado ele direito até agora), me comunicar com as pessoas mais virtualmente do que pessoalmente, pensar na apresentação de dança que está chegando... tudo isso meio que está acabando comigo, mas ninguém percebe. E isso acaba ainda mais comigo (o fato de ninguém perceber, quero dizer).
E tem horas (como agora) que eu só queria mesmo um abraço. Me cansa contar o que está errado principalmente quando eu não sei apontar exatamente o que está errado, então eu só precisava de um colo, um abraço, um carinho... Qualquer coisa confortante vinda de alguém que eu amo e que eu sei que se importa mesmo.
Mas o meu outro grande problema no momento é que eu me sinto mais sozinha do que nunca.


PS.: Família, sem preocupações, eu só estou um pouco cansada de tudo hoje, mas tenho certeza que vai passar. Eu só fiz esse post porque precisava desabafar de alguma forma.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sobre preconceitos

Considero totalmente adequado estabelecer uma relação entre o nazismo e os crimes homofóbicos que infelizmente continuam ocorrendo o tempo inteiro, o que deixa claro a minha visão radical sobre o assunto. A liberdade de credo, a liberdade sexual e a liberdade de expressão do indivíduo devem ser respeitadas acima de qualquer coisa, mas não é isso que acontece no mundo, de forma geral.



Dentro do contexto em que vivemos - em sociedade, eu digo -, precisamos estabelecer limites entre o nosso próprio direito à todas as liberdades e o direito do outro. Não podemos simplesmente nos manifestar de maneira ofensiva à outros indivíduos, tentando impor nosso modo de pensar sem pensar no resto. Todos têm o direito de ser contra determinada religião, por exemplo, mas ao manifestarmos nossas opiniões não podemos invadir o direito daqueles que crêem na tal religião e assim deve ser para qualquer outro tipo de preferência pessoal.


É inaceitável que nos dias atuais ainda tenhamos números tão altos de assassinatos e crimes movidos por preconceito e, agora, me refiro ainda mais especificamente aos crimes homofóbicos, pois este é um assunto que têm sido discutido nos últimos dias.


Não penso que todos sejam obrigados a entender as diversas opções sexuais, mas acho que todos devem saber aceitar e respeitar a diferença. O preconceito, seja ele qual for, é totalmente inaceitável. Num país com tanta diversidade étnica, religiosa e cultural como o Brasil, me choca muito ainda haver tanto preconceito, esse preconceito nojento enraizado nas nossas cabeças - sim, coloco esse plural aqui pra deixar claro que eu também posso ter meus preconceitos, por mais que seja totalmente contra isso e deteste -, que vai desde o preconceito racial, sexual, religioso e social até preconceitos que nem pensamos que existem (por exemplo o preconceito contra pessoas muito magras, que eu posso afirmar que existe SIM).


Mas o mais assustador de tudo é pensar que tem pessoas que agridem outras pessoas em função desse preconceito. Por mais que eu ache asqueroso e queira xingar um homofóbico, eu nunca vou fazer isso, nunca vou agredir fisicamente alguém só porque esta pessoa pensa de maneira diferente da minha ou vive de forma contrária às minhas convicções pessoais ou religiosas. Saber que homossexuais são agredidos e assassinados diariamente apenas por serem homossexuais, sem terem nem ao menos provocado alguma coisa, é totalmente assustador.


Pior do que isso, é ver que quando finalmente tomam uma atitude minimamente decente e tentam criminalizar oficialmente a homofobia, aparece alguém contrário a isso. Como alguém consegue se dizer claramente contra a Lei da Homofobia e ainda se orgulhar disso? E dizer que essa lei vai contra a liberdade de expressão? CONTRA A LIBERDADE DE EXPRESSÃO? Desculpa, mas que liberdade é essa? De poder xingar gays na rua, chutá-los ou coisa pior? ISSO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO? Ensinar nas aulas de religião que é pecado e que homossexuais são uma aberração... isso é liberdade de expressão?


Ninguém é obrigado a ser a favor da homossexualidade, mas todos precisam saber respeitar isso. É um absurdo o que vêm acontecendo e é um absurdo maior ainda a existência de pessoas a favor da homofobia ou do preconceito racial ou de qualquer outro.


Cada pessoa tem o direito de viver do jeito que lhe convém, de acreditar no que quiser e de expor suas opiniões, o que não pode é achar que a sua opinião é melhor do que as demais e que por isso você pode desrespeitar a opinião alheia.

sábado, 13 de novembro de 2010

Você tem alfinete?

Texto publicado na última edição da Revista Oriente. Resolvi postá-lo aqui (com todos os créditos à revista e à autora, claro!) porque me diverti muito com ele, achei muito real e dei bastante risada. Pra quem não dança e não passou por isso, tentem imaginar a situação! hahahaha


Se você nasceu, assim como eu, nos anos 80, teve a grande oportunidade (apesar de nenhuma lembrança) de usar fraldas de pano, presas com alfinetes. Alfinetes pratas, douradinhos, com cabeças coloridas ou de plástico. Alguns com formatos divertidos como joaninhas, passarinhos, etc. Muito conveniente para nós, bebês, mas acredito que muitas mães alfinetaram seus preciosos dedinhos durante as trocas de fralda. Com o passar dos anos, as fraldas descartáveis ficaram mais populares e baratas, o que deu fim (parcialmente) às fraldinhas com alfinetes.
E como aqui na Terra se faz e se paga, uma hora sempre chega o TROCO! Você cresceu “virou mocinha” (quem viveu no interior, conhece bem esta expressão, a de “virar mocinha”), e começou a dançar! Na sua primeira apresentação, a roupa foi comprada e/ou emprestada, toda arrumadinha, limpinha! Você foi prová-la e sentiu-se uma belezura! Chegou então o dia do show! E vem alguém e te diz: “você já colocou alfinete?” e você faz cara de paisagem (sim, porque a gente não assusta com essa pergunta, a gente acha que foi engano... Por isso a cara de paisagem!).
“SIM, VOCÊ PRECISA COLOCAR ALFINETE PARA SEGURAR FIRME O CINTURÃO NA SAIA, CASO CONTRÁRIO, O CINTO SAI GIRANDO PARA UM LADO E VOCÊ PARA OUTRO!”
A cara de paisagem se torna de espanto e você, rapidamente, aplica dois alfinetes na parte interna do figurino, um na frente e outro atrás. Com o tempo, você aprimora os movimentos, a força física, e vai aumentando o número de alfinetes no cinturão: adiciona um a mais, em cada lateral do cinto, para que ele não levante voo durante as batidas laterais. A esta altura, você e os alfinetes já estão muito, mas muito íntimos.
Quando a apresentação se torna um show inteiro e você precisa manter o figurino em ordem e seguro por 60 minutos, o alfinete é promovido! Ele não só atua no cinturão, mas também reforçando o fecho da parte de cima do figurino, no busto.
Nesta fase do relacionamento, eles (os alfinetes) já possuem caixinha própria, somam um total de 20 (entre grandes e pequenos), e você compreende a importância da segurança numa vida a dois! Ele passa a ser indispensável e seus figurinos ficam visivelmente esburacados.
Os dedos? Ficam alfinetados!
São casos de distração, nervosismo, pressa ou simplesmente acaso! Quando você menos espera o dedo está com uma bolinha de sangue. Você chupa o sangue aparente (e agora, talvez lembre-se da mamãe), coloca um band-aid (ou não) e entra no palco feliz e contente!
O que é uma bolinha de sangue perto do “showzão” que você está prestes a fazer?


Escrito por Esmeralda na Revista Oriente.

http://www.orienteencantoemagia.com.br

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Halloween

Era halloween alguns muitos anos atrás e eu estava em casa recebendo algumas amigas pra uma festa temática. Ficamos horas nos vestindo, passando maquiagem, batom preto, lápis escuro e tudo a que tínhamos direito no quarto... Se não me engano até saímos para pedir alguns doces na rua, sem muito sucesso.

Eu tinha feito vários lanches e minhas amigas também levaram algumas coisas... Tinha poncho, tinha brownie com açúcar verde em cima, pão de forma cortado em formato de fantasma... Num determinado momento, alguém tocou a campainha e eu fui atender. Quando cheguei ao portão, levei um susto.

Eu morava num sobrado e o portão da garagem era o portão principal, automático (que já estava meio velho), que balançava só de encostar. Quando cheguei na garagem, tinha um vampiro enorme, com cabelos grisalhos compridos, sangue escorrendo pela boca, urrando e chacoalhando o portão querendo entrar. Eu juro que quase tive um troço! Entrei em pânico e fui me esconder no banheiro do quarto da empregada, lá nos fuuuundos da casa. Todas as minhas amigas foram atrás, também com medo, e ainda me lembro de uma retardadária que estava surtando do lado de fora quando todas já estávamos trancadas...
Eu sabia que era o meu pai, mas isso não diminuía o meu medo. Ele continuava atuando incrivelmente bem e eu não sei como foi que nos tiraram daquele banheiro, eu só me lembro de implorar pra minha mãe pedir para ele parar até que ele parou.
A fantasia era muito boa e meu pai é um homem alto e cabeludo, então a impressão era muito mais forte. Ele tinha feito maquiagem com um profissional e tinha comprado dentes afiados que pareciam dentes reais, não eram como essas dentaduras de plástico que entregam em festa infantil. Além disso tinha o sangue, que vinha numa bisnaga e ele espirrava na boca pra parecer que estava escorrendo... Realmente, estava medonho.

Agora não sei onde estão as fotos, mas assim que eu achar vou colocá-las aqui. Apesar de ser uma lembrança de criança, eu sei que ele realmente estava medonho. Mas no fim foi divertido e a história ficou marcada, aposto que ninguém que estava lá esqueceu disso até hoje...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Chegou a prima Vera!

Eu sempre tive uma mania estranha de ouvir as palavras e ficar imaginando de onde elas surgiram. Quando eu era criança, evidentemente isso era muito mais forte, hoje em dia já quase não me apego a isso, mas ainda me lembro.



Lembro especialmente de uma palavra que eu ficava pensando muito e que até hoje penso um pouco quando ouço: Primavera. Na minha mentalidade infantil, pensava: "Será que alguém tinha uma prima chamada Vera que nasceu nessa época do ano?", dentre muitas outras hipóteses, uma mais maluca do que a outra.


Hoje é o primeiro dia da primavera e me veio esta memória. É engraçado como as crianças se preocupam com coisas tão simples e que não deixam de ser interessantes por isso. Aliás eu acho o contrário: já me surpreendi diversas vezes ao ouvir algum questionamento ou teoria de uma criança e perceber que era uma coisa bem curiosa mesmo, principalmente na época que eu fazia mediação de leitura em creche e intervenção hospitalar.


Se pararmos pra pensar, as palavras são coisas engraçadas e lindas. Agora mesmo, há exatamente dez minutos, eu estava fazendo uma redação - treinando pro vestibular, como sempre... - e quando fui passar a limpo fiquei observando quão belas podem ser as palavras. E hoje também, no carro vindo pra casa - porque consegui uma carona da minha mãe maravilhosa na volta do cursinho! hahaha - estava conversando sobre política e discutindo sobre os candidatos e a tristeza que está essa eleição de 2010 quando eu disse: "É engraçado pensar que daqui há muitos e muitos anos vários jovens de cursinho vão estar bitolando tudo isso", me referindo à clara distinção que eu e muitas pessoas que eu conheço e converso veêm entre a escolha dos candidados e a classe social dos eleitores. Minha mãe, claro, perguntou o que era 'bitolando'. O que eu deveria responder? Eu nem sei se a palavra 'bitolar' existe, muito menos se eu posso conjugá-la dessa forma.


É muito legal quando surgem palavras novas que fazem todo o sentido do mundo. Às vezes elas nascem em uma conversa boba num barzinho tomando cerveja entre amigos ou então numa conversa de carro como foi essa de hoje. Isso porque as palavras são realmente instrumentos muito interessantes.


Antes de conseguir minha carona hoje - curioso que estou associando o texto inteiro com o meu dia, por pura coincidência (vai ver o assunto das palavras estava inerente ao meu dia e eu nem percebi) - eu estava no cursinho tirando dúvidas de física e depois fiquei esperando minha mãe lendo "Vidas Secas" (que recomendo a todos!), do Graciliano Ramos - livro do vestibular, claro. Neste livro diversas vezes o Fabiano, personagem principal, reflete sobre o seu jeito de ser, 'cabra', como ele diz. Ele e sua família mal se comunicam verbalmente e praticamente não se relacionam com outras pessoas, então não têm um vocabulário muito amplo e não sabem argumentar em situações que requerem um certo jogo de palavras, como na negociação do pagamento com o patrão, que rouba o dinheiro de Fabiano. A personagem sempre reflete sobre sinha Terta, que sabe usar bem as palavras e que ele acredita que não passaria pelas situações que ele passa por ter esta vantagem comunicativa.


Assim, eu fico pensando em como as palavras são importantes. A escolha lexical diz tanto sobre nossa formação, sobre nossa vida, nossas influências, nossas opiniões! Se pensarmos numa reportagem de revista, por exemplo, que diferença que uma ou duas palavras não podem fazer na interpretação dos fatos, não é?


Pois é... Hoje a primavera chegou para ma fazer refletir. Aliás, alguém já reparou que 'bigode' é uma palavra bem engraçada?


Esse texto não terá uma conclusão, ainda estou refletindo sobre o assunto....

Poema: O operário em construção - Vinícius de Moraes

Um longo poema de Vinícius de Moraes que lemos hoje em aula. Me tocou e tenho certeza que tocará quem ainda não o conhecia. Apesar de longo, podem confiar em mim, vale muito a pena a leitura! Lá vai...



E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:



– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.


E Jesus, respondendo, disse-lhe:


– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.


Lucas, cap. V, vs. 5-8.






Era ele que erguia casas

Onde antes só havia chão.

Como um pássaro sem asas

Ele subia com as casas

Que lhe brotavam da mão.

Mas tudo desconhecia

De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.


De fato, como podia

Um operário em construção

Compreender por que um tijolo

Valia mais do que um pão?

Tijolos ele empilhava

Com pá, cimento e esquadria

Quanto ao pão, ele o comia...

Mas fosse comer tijolo!

E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.


Mas ele desconhecia

Esse fato extraordinário:

Que o operário faz a coisa

E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia

À mesa, ao cortar o pão

O operário foi tomado

De uma súbita emoção

Ao constatar assombrado

Que tudo naquela mesa

– Garrafa, prato, facão –

Era ele quem os fazia

Ele, um humilde operário,

Um operário em construção.

Olhou em torno: gamela

Banco, enxerga, caldeirão

Vidro, parede, janela

Casa, cidade, nação!

Tudo, tudo o que existia

Era ele quem o fazia

Ele, um humilde operário

Um operário que sabia

Exercer a profissão.


Ah, homens de pensamento

Não sabereis nunca o quanto

Aquele humilde operário

Soube naquele momento!

Naquela casa vazia

Que ele mesmo levantara

Um mundo novo nascia

De que sequer suspeitava.

O operário emocionado

Olhou sua própria mão

Sua rude mão de operário

De operário em construção

E olhando bem para ela

Teve um segundo a impressão

De que não havia no mundo

Coisa que fosse mais bela.



Foi dentro da compreensão

Desse instante solitário

Que, tal sua construção

Cresceu também o operário.

Cresceu em alto e profundo

Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.



E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.


E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:



Notou que sua marmita

Era o prato do patrão

Que sua cerveja preta

Era o uísque do patrão

Que seu macacão de zuarte

Era o terno do patrão

Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.


E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

 
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.


Dia seguinte, o operário

Ao sair da construção

Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!


Em vão sofrera o operário

Sua primeira agressão

Muitas outras se seguiram

Muitas outras seguirão.

Porém, por imprescindível

Ao edifício em construção

Seu trabalho prosseguia

E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.



Sentindo que a violência

Não dobraria o operário

Um dia tentou o patrão

Dobrá-lo de modo vário.

De sorte que o foi levando

Ao alto da construção

E num momento de tempo

Mostrou-lhe toda a região

E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.



Disse, e fitou o operário

Que olhava e que refletia

Mas o que via o operário

O patrão nunca veria.

O operário via as casas

E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!


– Loucura! – gritou o patrão

Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.




E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.


Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.


segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Conversa no carro

No carro da auto-escola, chegando ao local onde eu iria treinar minha direção super habilidosa, meu instrutor começa a falar do feriado.

- Maravilha, vou viajar na sexta cedo e volto só depois do feriado!

Eu, meio constrangida, digo:

- Eu acho que eu tenho aula sexta e sábado.

Ele, meio brincalhão, diz que vai no sábado a tarde então. "Ufa", penso eu, "Pelo menos não vou ter que desmarcar a aula".

- Aí eu durmo até tarde sábado e vou direto viajar descansado. - ele disse.

É, acho que ele não entendeu que às 8 horas da manhã de sábado eu estarei esperando por ele. Que pena, é maldade mesmo, né?

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dança do Ventre

Não é difícil encontrar na internet textos explicativos sobre a origem da dança do ventre e seus benefícios - apesar de nem todos serem tão confiáveis assim -, mas infelizsmente é muito difícil encontrar livros que falem sobre isso. No cinema, apesar de raras, existem boas produções que abordam o tema da dança, como "O segredo do grão", que trata mais a respeito da cultura e das relações familiares, mas tem uma certa relação com a dança.
Uma das primeiras bailarinas a se apresentar na telona foi Samia Gamal. Com o cinema, o processo de disseminação da dança foi acelerado, levando a dança e a cultura ocidental para o resto do mundo.





Hoje existem muitos vídeos técnicos de dança do ventre, facilmente encontrados em sites como o Youtube ou em lojas árabes em formato de DVD, que ensinam principalmente os passos mais básicos (se tiver interesse, é só digitar "how to bellydance" ou qualquer coisa neste gênero que aparece sem dúvidas). No Brasil, a dança foi muito divulgada principalmente com a novela da Rede Globo "O Clone", cuja personagem principal, interpretada pela atriz Giovana Antoneli, era Jade, uma marroquina que vivia um romance com Lucas, um brasileiro.



Apesar da disseminação da dança no mundo ocidental e do surgimento em massa de cursos de dança do ventre em escolas, centros culturais e academias, ainda existem muitos mitos em relação a esta arte e ela ainda é pouco explorada no cinema. Infelizmente quando vemos uma cena de dança oriental no cinema ou em séries de televisão, costuma ser muito rápida e as bailarinas são colocadas como objeto de desejo sexual, vulgarizadas e erotizadas, o que contribui ainda mais para os esteriótipos que a dança carrega. Além disso, a popularização da dança também ocasionou o surgimento de professoras que não são preparadas para lidar com movimentos que, se mal trabalhados, podem gerar danos graves no corpo.
Mas existem filmes bons sobre o assunto. Alguns falados são "Satin Rouge" e "My mother is a bellydancer", que eu infelizmente ainda não tive a oportunidade de assistir, mas logo farei isso.



Espero que o post tenha ficado agradável e interessante.. E, entendedores de dança, manifestem-se, pois sei que ainda tem muita coisa pra falar sobre isso!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Curta: Laços (Ties)

Há algum tempo atrás, um ano ou dois talvez, eu assisti a um curta na internet. Era o vencedor ou um dos melhores do concurso do Youtube (que por sinal eu quase participei por incentivo do meu pai) "Project: Direct". Não vou me estenter muito explicando o contexto porque eu também não me lembro, mas a proposta envolvia produzir um curta e publicá-lo no Youtube.
De alguma forma, o link chegou a mim. Provavelmente quando eu estava procurando alguma coisa na internet ou quando algum amigo me mandou para assistir.
O importante é que, na época, eu adorei o vídeo. Coloquei na minha página do Orkut, indiquei para todos os amigos, fiz a maior festa... Agora, depois de algum tempo, com a cabeça mais em ordem e as idéias amadurecidas, lembrei do curta e resolvi assistí-lo novamente. Aqui vai ele, para que vocês vejam e acompanhem os meus comentários em seguida:


(créditos à minha tia Jussara que me ensinou a colocar vídeos no blog)





Agora que você já assistiu o vídeo uma vez, assista mais uma, já sabendo o final, pra pensar e tirar suas próprias conclusões antes de ler o que eu tenho a dizer.

Bom, antes de tudo quero dizer que minha intenção não é fazer um comentário crítico sobre o curta. É claro que eu vejo defeitos assim como vejo qualidades e tenho lá umas chatices pra dizer a respeito de vários detalhes, mas não quero me apegar a isso. Hoje eu quero falar das qualidades, do que eu gostei no curta. Então, vamos à isso!

Pra começar, uma coisa: eu adoro a música do começo! Demais, demais mesmo! Na época que descobri o vídeo um amigo meu milagrosamente conseguiu a música pra mim e depois eu nunca mais achei em lugar nenhum, se não me engano é de composição dos autores do curta.

Ele começa com uma menina correndo, fugindo do enterro do pai, triste, quando surge um garoto, lhe fazendo perguntas que ela não quer responder. Ele está com uma gravata pendurada no pescoço e pede para a garota lhe fazer um laço, que ela faz de má vontade. À partir daí o laço na gravata começa a adquirir outros significados. Ela dá o laço com pressa, de mal jeito e, quando perguntado se gostou dele, o garoto responde: "Eu prefiro os laços firmes. Aqueles mais difíceis de se fazer e de se desfazer, mas que quando feitos e depois desfeitos, podem se orgulhar de si próprios e falar com convicção: 'Eu fui um grande laço!'".
Essa fala, que eu considero lindíssima, já deixa claro o símbolo que foi colocado ali. Um paralelo entre o simples laço da gravata e os laços afetivos e emocionais. Ainda assim, a garota não entende a mensagem que lhe está sendo transmitida, mas aos poucos cede às insistências do garoto. "É bobagem chorar por laços que parecem desfeitos mas que continuam firmes. Alguns laços são teimosos. Às vezes a gente pensa: 'Puf! Lá se foi ele...', mas ele vai estar sempre aí, que nem alguns amores", diz o garoto algum tempo depois. Aí já fica mais evidente a relação da metáfora não com qualquer relacionamento, mas sim com aquele que ela estava considerando quebrado naquele momento, a relação que ela tinha com seu recentemente falecido pai.
Assim, o garoto diz, para finalizar: "Ficou lindo! O laço...". Que é a dica para compreender que ele conseguiu atingir seus objetivos, fazer a garota entender aquilo que estava vivendo e não se deixar abater por aquilo, pois o que realmente importava permaneceria. Quando ele completa sua 'missão', dá um beijo carinhoso na menina e vai embora tranquilo.
Então, o curta acaba com a menina recebendo de sua mãe uma lembrança do pai: uma foto do dia em que eles se conheceram que, para a surpresa dela, é o rapaz com que ela esteve nos últimos minutos, o 'maníaco do laço', como ela o chamou numa passagem. E aí, entendeu?

Não gosto de ficar falando que isso ou aquilo quer dizer isso ou aquilo especificamente. Eu demorei um certo tempo para entender o real significado desse curta, mas agora que acredito ter compreendido, quero deixar essa mensagem no ar. E também deixar a idéia de que nós não precisamos ter muitos laços feitos por aí, nos basta um laço bem feito e pronto!

Agora que você já viu o curta e já leu meus comentários, que tal assistir novamente? Eu só compreendi melhor depois de assistir muitas vezes, então, vamos lá!

Para pensar (I)

Quando alguém nos ajuda ou é simpático demais conosco, temos a mania, quase sempre, de achar que algo está errado. Ou pensamos no que passa pela cabeça daquela pessoa para ela ser daquele jeito, ou pensamos no que ela provavelmente vai querer em troca. Ninguém pensa que as pessoas podem simplesmente querer ser gentis, educadas, amáveis, caridosas, sem necessariamente tirar algum proveito da situação.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Reflexões Cotidianas: Lingerie Day

Hoje é o Lingerie Day. Um dia que eu não faço a menor idéia de onde surgiu, para as mulheres trocarem seus avatares (aquelas fotos pequeninas com a sua cara) do twitter por fotos delas de lingerie. Um pouco mais cedo eu entrei num site que tinha "as melhores fotos do Lingerie Day" para todos verem e votarem na campeã.
Esse tipo de coisa sempre me faz pensar. Pra quê tanta exposição? Se fotografar de lingerie, numa pose geralmente sensual e postar falando "ai gente, desculpa, foi o melhor que deu pra fazer", só pra receber ainda mais elogios, não é um pouco demais?
Eu sigo no twitter algumas pessoas que aderiram à isso e o fato de elas terem trocado suas fotos não muda absolutamente o que eu penso sobre elas, mesmo porque eu não sei se o Lingerie Day tem algum propósito maior (vai saber, né?) além das mulheres aumentarem um pouco seus egos na internet.
Mas de qualquer forma tem um fator preocupante que é a própria internet. Se fotos normais são 'roubadas' e editadas para sites de pornografia e de prostituição, imaginem o que pode acontecer com milhões de fotos de meninas de lingerie em poses sensuais?
Não sei, mas fico pensando até que ponto as pessoas são capazes de se expor para terem mais seguidores no twitter ou para ficar conhecidas na internet ou na mídia ou o que quer que seja. Será que é preciso mesmo tudo isso?

Penso no que aconteceria se inventassem um Naked Day...

sábado, 24 de julho de 2010

Reflexões Cotidianas: o que está acontecendo com o romantismo?

Esta semana eu saí com a minha mãe. Ela tinha ido me buscar na aula de dança e no meio do caminho resolvemos parar num barzinho perto de casa para tomar uma cerveja à toa. Pedimos uma porção e as cervejas e ficamos lá curtindo o som ao vivo com ótimo repertório.
Depois de algum tempo, como éramos as únicas a apreciar aquele repertório (que era MPB, basicamente), o músico começou a tocar algumas músicas mais populares, a ponto de chegar a algumas que eu sequer tinha escutado, mas me pareceu sertanejo. Com isso, uma mesa repleta de homens atrás de nós começou a se animar. Eram todos homens adultos, alguns com 30, outros com 40 anos, imagino eu... E um deles sentou estratégicamente perto de mim. Eu fiquei ali na minha, pensando onde ele iria chegar, mas como ele ficou quieto, eu não fiz nada.
Algum tempo depois, ele perguntou meu nome. Depois de três palavras já estava me chamando para ir para o lado de fora do bar pra "conversar melhor" (nós mulheres sabemos bem o que issoi significa...), mas eu prontamente disse que estava tranquila, com a minha mãe e que tinha um namorado que estava fora da cidade. É engraçado que quando eu falo que namoro há dois anos e meio eles já percebem que é sério e normalmente não tentam o truque do "mas ele não está aqui, ninguém vai contar pra ele", etc etc...
Enfim, ficamos conversando por muito tempo. Ele me contou que era do interior, perguntou um milhão de coisas sobre mim que eu respondi somente o necessário para ser cordial (hoje em dia né, tem que tomar cuidado) e foi super educado e respeitoso. Como ele aparentemente tinha entendido que tudo o que ele iria conseguir de mim seria uma longa conversa, eu não me encomodei de prolongar o papo, já que não estava correndo nenhum tipo de risco (mesmo porque mamãe estava ao lado, haha) e o moço era bonzinho.
Quando eu saio com o meu namorado e passa algum vendedor de flores, eu fico intimamente torcendo pra ele resolver me dar uma flor. É claro que é só um gesto, mas pras mulheres principalmente um gesto simples destes pode dizer muita coisa. Me lembro claramente de um dia que saímos juntos, quando ainda nem namorávamos, e quando estávamos no carro ele segurou na minha mão. Aquilo me passou uma sensação de confiança e de união tão grande que não esqueço até hoje! Mas, voltando à história, lá estava eu no bar conversando com o rapaz do interior quando passou um senhor vendendo flores. Ora, quando eu iria imaginar que um rapaz que acabou de me conhecer e que tinha entendido que só teria uma conversa me daria uma rosa com trufa? Acontece que ele comprou a tal rosa e aqui estou eu, olhando pra ela já meio murcha.
É engraçado como as coisas são. Flores ainda são um grande símbolo romântico, mas ao mesmo tempo está caindo na banalidade! São poucas as mulheres que ainda ficam emocionadas ao receber flores - muitas prefeririam ganhar uma jóia ou um sapato caro - e poucos os homens que entendem o significado disso.
Se um cara que me conhece num boteco pode me comprar uma rosa, onde foi parar o verdadeiro romantismo? Acontece que agora ser romântico é brega. Fazer declarações de amor é cafona. É claro que eu não estou me referindo àqueles carros de mensagem que chegam fazendo um escândalo na rua com uma pessoa falando no microfone e milhões de bexigas de coração saltando do porta-malas, mas das pequenas declarações cotidianas. Escrever uma carta, deixar um bilhete, fazer um elogio. Acho que infelizmente até hoje os homens não entenderam que certas atitudes significam muito mais para as mulheres do que eles pensam ao fazê-las.
Então, para onde vai o romantismo? Se as flores estão banalizadas, o "eu te amo" pode ser dito para qualquer um e escrever carta é coisa de "gay" (desculpem pelo termo pejorativo!), como ser romântico hoje em dia? Mandando uma mensagem pelo twitter? É, acho que estamos precisando rever nossos conceitos...


PS.: Sim, o texto é totalmente generalizador e eu SEI que nem todo mundo é assim, mas considerem um comentário sobre aqueles que são assim!

Reflexões Cotidianas: Blog






Quando eu tinha aproximadamente treze anos, os blogs estavam na moda. Todo mundo tinha um Weblogger sobre todos os tipos de coisa que se possa imaginar. Haviam aqueles que funcionavam como diários eletrônicos, que geralmente começavam com um GIF pink piscante escrito "Oieeee" e basicamente as meninas falavam sobre seus dias, sobre as aulas do colégio, a briga com a mãe, a coleira nova da cachorra, enfim, banalidades. Também existiam os blogs que ficavam tão famosos que só faziam promoções, e os prêmios sempre eram um GIF gigante de recomendação para o seu blog. Depois de algum tempo, começaram a surgir os "Condomínios", que eram blogs onde as donas - porque geralmente era mais de uma - colocavam links para outros blogs que tinham sido inscritos lá. O nome "Condomínio" é porque geralmente elas selecionavam por "Prédios" os blogs. Difícil de explicar e entender, mas quem teve blog nessa época certamente vai se lembrar. Enfim, aí tinham os blogs de fãs-clubes (que hoje evoluíram para sites mesmo) e um milhão de "blogs oficiais" da Avril Lavigne ou qualquer outra.

Então veio a moda dos fotologs (flogão, fotologger...), que eram mais divertidos porque na época você precisava colocar todas as imagens do seu blog num site de hospedagem e tinha um limite de imagens, então com os fotologs isso ficou mais fácil, pois cada post era uma foto.

Assim, os blogs morreram, os fotologs morreram e só ficou o Orkut. Recentemente, vem ocorrendo um fenômeno engraçado. No começo, eu achava que era só coisa da minha tia (aqui um dos blogs dela: http://jugehrke.blogspot.com/ ), que estava criando vários blogs e divulgando pra família, mas depois fui perceber que era um fenômeno grande. Começaram a surgir muitos blogs de todos os tipos, mas desta vez criados por pessoas mais velhas, e mais estruturados. Surgiram os tão falados blogs de beleza, inclusive alguns focados especificamente em uma ou outra coisa, outros mais gerais -, blogs de curiosidades, de humor... e os blogs críticos. Básicos, sérios.


É engraçado falar disso no meu blog que eu não sei nem classificar, mas é um fato. Pessoas como eu, por exemplo, que possivelmente tiveram seus blogs coloridos cheios de gifs em 2004 (estou chutando o ano!), voltaram a criar novos blogs, com posts principalmente falando dos assuntos populares na mídia, as notícias mais comentadas, esse tipo de coisa.

Afinal, é correto falar que alguma coisa morreu? NADA morre! Tudo algum dia ressurge, volta, reaparece! E é assim que as coisas são. É um ciclo infindável e incrível, ótimo de ser pensado e analisado. Se pensarmos na "moda retrô", nos esmaltes azuis - quando eu tinha dez anos tudo o que eu queria era um esmalte azul, porque estava na moda -, os blogs e mais um monte de coisas, eles não passam de novas versões de coisas que tinham sido consideradas mortas, acabadas.

Portanto, quando alguma coisa desaparecer por aí, não se preocupe, ela volta!



PS.: Esse post foi motivado por duas amigas minhas que comentaram aqui - que têm blogs! - e por outra que eu descobri hoje que tem blog também: Fabi, Lê e Natty, um beijo!











terça-feira, 20 de julho de 2010

Reflexões Cotidianas: Aparência e "otras cositas más"

Ontem, enquanto estava no carro com a minha mãe, após sair de uma "análise capilar" no Soho, estávamos discutindo sobre o que eu faria com meu cabelo quando começa a tocar esta música, do magnífico Zeca Baleiro:

"[...]
Vem você me dizer
Que vai num salão de beleza
Fazer permanente
Massagem, rinsagem, reflexo
E outras 'cositas más'...

Oh! Baby você não precisa
De um salão de beleza
Há menos beleza
Num salão de beleza
A sua beleza é bem maior
Do que qualquer beleza
De qualquer salão...

Mundo velho
E decadente mundo
Ainda não aprendeu
A admirar a beleza
A verdadeira beleza
A beleza que põe mesa
E que deita na cama
A beleza de quem dorme
A beleza de quem ama
A beleza do erro
Puro do engano
Da imperfeição...

[...]"

E eu fiquei pensando em tudo o que eu pretendia fazer no meu cabelo, mudá-lo completamente, no que eu deveria e não deveria fazer. É realmente uma loucura o que muitas mulheres têm feito, mudando seus rostos, corpos, cabelos e o que mais for possível para se adequar aos padrões estéticos muitas vezes impostos pelos rostos famosos da mídia, mas também é verdade que certas mudanças, até certo ponto, são saudáveis.
No meu caso, aquela situação já estava me fazendo mal. Eu nunca me achei uma pessoa feia, sempre soube que eu tinha lá a minha beleza, mas estava ficando difícil quando eu me olhava no espelho quase todos os dias e não via nada que me agradasse. Esse tipo de coisa prejudica a pessoa emocionalmente e afeta diversos outros pontos da vida que nem podemos imaginar.
Assim, decidi que eu ia mesmo mudar, arriscar, e fiz. Fiz hoje, estou com o cabelo mudado e com algumas mudanças programadas pra semana que vem, e já estou bem feliz com o resultado.
A conclusão de tudo isso é que a beleza natural está aí para ser admirada. A nossa sociedade aprendeu a admirar uma beleza fictícia das mulheres perfeitas das novelas e filmes que só são perfeitas depois de horas de preparação no salão e nós, pobres mortais, achamos que elas acordam todos os dias lindas e belas daquele jeito.
Bonita mesmo é aquela que não precisa de escova e maquiagem para ser admirada. Mas toda mulher, ou melhor, toda pessoa, todo ser - por que eu incluo os animais, árvores e frutas nisso -, tem sua beleza natural, cabe a ele se descobrir e aprender a explorar isso. Sim, eu acredito mesmo nisso, apesar de ter tacado química no meu cabelo para mudá-lo. Porque eu acredito que, se você não descobre como se sentir bonita e feliz consigo mesma de uma maneira mais natural, não tem nada de errado em tentar por outros meios, desde que saiba seus limites.

Enfim, talvez tudo tenha ficado um pouco confuso pois não revisei o texto nem nada, mas espero que a idéia geral tenha ficado no ar. E, só pra ressaltar, Zeca Baleiro é tudo de bom! Se alguém descobrir uma música dele que não seja fantástica, me mostre, porque todas as que eu conheço são maravilhosas.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Reflexões Cotidianas: Relacionamentos, amizades, pessoas e afins.

E chegou um momento em que todos sumiram e eu fiquei sozinha. Quem me conhece bem sabe que eu posso ser - e quase sempre sou - a pessoa mais dramática que se possa imaginar, mas às vezes eu fico pensando se tudo é realmente exagero e neurose minha ou se tem alguma origem concreta, e eu acho que tem.
Quando acabei o Ensino Fundamental II foi provavelmente o rompimento que mais me afetou, pois eu tinha feito amigos realmente queridos e que eu amava - e amo ainda - muito mesmo, e tinha criado uma relação absurda de dependência com eles. Com o fim do ano de 2006, eu mudei de casa e de colégio e passei por períodos horrívels, me sentindo muito sozinha e abandonada. Ficar do outro lado da cidade quando todos os seus amigos permanecem próximos e distantes de você pode ser realmente terrível.
Demorei um ano mas consegui me adaptar ao Equipe e às pessoas de lá, que eu passei a amar também. Com o tempo, eu já estava dependendo deles e não mais dos meus antigos amigos, mas é claro que o ciclo iria se romper e no final de 2009 mais uma vez houve a quebra.
Com todo o drama que eu consigo fazer ser a minha vida e ainda mais num ano de cursinho, as coisas ficam apenas mais e mais difíceis. Num cursinho ninguém se importa, ninguém liga, ninguém quer te conhecer, muito pelo contrário, eles ficam loucos esperando uma falha sua para te criticar até não poder mais.
Assim, eu transferi minha dependência mais uma vez, agora para o meu namorado. Se eu não saio com ele, não sei o que fazer. Se eu não consigo falar com ele, fico perdida. Não é isso que eu quero para mim. Eu quero lembrar que um dia eu já tive grandes amigos e que eu ainda posso tê-los. Não quero ficar nos meus poucos dias de férias sentada na minha cama reclamando quando meu namorado não pode me ver sem tomar nenhuma atitude. Eu preciso lembrar que eu valho a pena e que por aí existem pessoas que se importam e querem estar comigo! Eu preciso disso mais do que nunca.

Eu sei que provavelmente ninguém vai ler este texto, mas algumas vezes é preciso desabafar e a escrita sempre foi um refúgio para mim. Agora vamos ver como as coisas ficam, espero que tudo ande bem.


domingo, 11 de julho de 2010

Filme: A Fita Branca

Ontem fui ao cinema assistir o filme "A Fita Branca". Um filme que se passa na Alemanha no período que prescede a Guerra Mundial.

Não quero me demorar muito falando a respeito do filme nem das minhas impressões pois ainda estou pensando a respeito, mas mesmo assim já posso dizer que é um filme e tanto. Achei muitíssimo bem feito e muitíssimo interessante. Lógico que me apeguei às minhas viagens ao invés de me preocupar realmente com a história em si. Fiquei pensando na época que o filme retrata e em todas as críticas e contradições que ele mostra. Para quem não viu, fica a dica. Está em cartaz no HSBC Belas Artes, na Consolação com a Paulista.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Poema de última hora


Dança, menina, dança!

que a vida é para aproveitar

Dança que é pra viajar,

pro chão tremer

e a tudo encantar...


Dança que é contagiante

que é excitante

e energizante!


Dança com rima, som

e molejo

com graça, pirraça

e sem jeito...


Dança que a vida é curta

que a dança amansa

e descansa

que a dança dança

Dança, dança!
Poema de última hora, Flora Gehrke

domingo, 27 de junho de 2010

Reflexões Cotidianas: Vestibular

Eu sempre fui contra o vestibular, mesmo quando não estava estudando para passar nele no final do ano, mas agora que é só disso que eu vivo, é claro que eu sou mais contra ainda. A verdade é que eu acho um método muito injusto. E não digo isso só porque eu pessoalmente estou tendo dificuldades enormes para estudar, pois acho que mesmo depois que eu passar eu vou continuar achando que é um método injusto e inadequado.
Uma prova ou algumas (no caso dos vestibulares que tem duas fases) devem supostamente mostrar para um grupo de examinadores que você está preparado para entrar na faculdade. Mas honestamente, não acredito mesmo que isto mostre muita coisa. Uma prova, um dia, um branco, uma falta de concentração, um problema pessoal... Qualquer coisa pode te atrapalhar nesse momento e você será enormemente prejudicado. E quem disse que eu não estou pronta para a faculdade?
Que fique bem claro que não sou contra a existência de algum método, porque acredito sim que é necessária uma carga de conhecimento prévio antes de entrar em qualquer curso superior e que isto deve ser considerado, mas provas não dizem nada.
Aliás, até o termo é horrível. Prova. Você precisa provar para alguém que pode estar lá dentro. É terrível! Uma pessoa é muito mais do que ela pode expressar com algumas respostas e uma redação. Cada pessoa tem tanta coisa para oferecer! Coisas que estas provas não avaliam e que muitas vezes podem ser até mais relevantes do que todos os conhecimentos que nos exigem.

Bom, é claro que este texto não vai a lugar algum. Acontece que estou estudando enlouquecidamente há alguns dias e isso é quase que um desabafo. É claro que eu estou muito mais encomodada com isso do que eu estaria se já tivesse passado no vestibular, mas, mais uma vez, eu insisto: eu realmente não acho que seja um bom método seletivo.
Não tenho propostas e não sou adepta de sorteios, como uma professora minha uma vez disse ser, mas sou contra as provas, o que, infelizmente, é o que temos.
Apesar de todas as críticas, vejo nitidamente que é difícil empregar outro meio para os fins do vestibular, portanto o que me resta agora é aceitar e seguir em frente.
Veremos no que isto vai dar e me desejem boa sorte.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Monografia - Crianças em estado terminal: Educação para a morte

O texto que estou postando hoje é a introdução da monografia que eu fiz no ano passado, 2009, como projeto de conclusão de curso do Ensino Médio, no Colégio Equipe. O trabalho aborda a questão das crianças com doenças terminais e como elas, suas famílias, a sociedade e o hospital lidam com isso. Aqui vai apenas a introdução porque achei que era o pedaço que cabia ser postado fora do contexto geral do trabalho, se houver algum interesse eu posso postar o resto dela aos poucos.

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ENSINA-ME A MORRER
Crianças em estado terminal: Educação para a morte
Uma criança, em seu quarto à noite, vê uma sombra medonha na janela, algo que ela não sabe o que é. Por não saber, ela começa a imaginar criaturas terríveis, verdadeiros monstros, e fica apavorada. Porém, quando esta criança cria coragem e vai verificar o que há atrás da janela, ela vê uma árvore com muitos galhos, porém inofensiva. O fato de ver a árvore a conforta, a tranquiliza e dispersa o medo.
O que quero dizer com esta metáfora é que não ter conhecimento sobre o que é a morte - devido à falta de informação a este respeito - contribui para o medo que existe em volta dela, o medo do que não sabemos explicar. Entender a morte é necessário para que possamos compreender nossa existência na condição de seres finitos, pois a morte faz parte da vida.
Considero importante citar que o histórico de nossa sociedade ocidental e cristã contribui fortemente em nossas atuais concepções, ou seja, nossa herança cultural define nossa visão de morte. Numa fala breve sobre isto, anteriormente tinha-se uma idéia de que se podia controlar a morte magicamente, o que facilitava sua integração psicológica, aproximando o homem da morte com menos terror. Na Idade Média ocorreram diversos eventos causadores da morte em massa [Ver "Um estudo teórico da morte"], o que quebrou esta visão do controle mágico e o homem passou a viver tendo a morte como uma constante ameaça, que poderia pegá-lo de surpresa. Esse súbito descontrole em relação à morte pode ser uma explicação para o surgimento de temores.
Assim, conteúdos negativos, perversos e macabros passam a ser relacionados à morte, tais como torturas e flagelos, o que provoca um estranhamento do homem em relação a isto.
A morte é vista como castigo ou punição e está ligada a uma ação má, a um acontecimento medonho [Ver "Sobre a morte e o morrer", Elizabeth Kubler-Ross]. Para lidar com este acontecimento visto como desconhecido e negativo, o homem cria mecanismos de defesa, dentre eles, fantasias. As fantasias podem ser boas ou ruins, sendo as boas, fantasias de que exista uma vida após a morte, num mundo paradisíaco, sem sofrimento e as ruins, fantasias que ligam a morte ao inferno, com figuras diabólicas, pavores de aniquilamento, desintegração e dissolução, que estão relacionados aos sentimentos de culpa e remorso inerentes à nossa herança cultural cristã. Estas fantasias criadas para uma defesa psicológica do mistério que é a morte são uma espécie de negação da morte.
Cada vez mais os produtos antiidade são procurados e a função do hospital como defensor da morte vem aumentando, o que comprova a tentativa de evitar e negar a morte. Coloca-se tudo nas mãos dos médicos e das tecnologias que cada vez mais criam meios de prolongar a longevidade. Procura-se ter boa saúde física, se alimentando bem e se exercitando, evitando lugares perigosos, entre outras coisas, a fim de afastar a morte.
Além de afastar a morte em si, as pessoas em geral tentam evitar até mesmo falar sobre a morte, como se apenas falar sobre o assunto trouxesse uma espécie de azar que poderia atrair algum evento fatídico. Este medo, esta renúncia em falar sobre a morte está muito relacionada à forma como ela é vista, é claro, mas também está relacionada à grande tristeza que caminha junto com o tema. A morte está relacionada à ausência, à perda, à separação. Quando algum ente querido morre, a sensação que invade a maioria das pessoas é a de tristeza, pois aquela pessoa que está partindo nunca mais será vista, nunca mais contará uma história, nunca mais vai dar um abraço ou um beijo, nunca mais estará, de fato, presente conosco. O que acontecerá com ela é desconhecido e, por seu mistério, nos dá medo.
Devido às concepções da sociedade e à relação com a tristeza, a morte é um assunto pesaroso e as pessoas procuram não falar dela. Além disso, falar sobre a morte é desagradável, pois entramos em contato com as nossas próprias limitações enquanto seres humanos e entrar em contato com estas limitações é entrar em contato com nossas impotências. Atualmente existe uma grande necessidade de se falar sobre a morte, justamente ela existência de "tabus" a seu respeito que devem ser quebrados. Além disso, a morte está presente, querendo nós ou não, na nossa sociedade, no nosso cotidiano. Está na televisão, nos jornais, na casa do vizinho, na novela, nas guerras, na nossa própria casa, enfim, em todo lugar.